Friday, January 06, 2006

As Presidenciais para os madeirenses

alegremadeira@hotmail.com

Para um madeirense, a eleição do habitante do mais alcandorado lugar da nação política comporta uma importância acrescida, devido à consabida pusilanimidade dos Presidentes, quando está em causa os comportamentos de Alberto João. A Madeira, conquanto munida de uma autonomia ampla, evade-se, politicamente, ao respeito devido a uma República una, cujo paladino primordial reside em Belém. Alberto João Jardim é quase tão antigo quanto a "democracia" portuguesa, mas equipara-se a ela no campo da putrefacção. O tempo encrespou as relações entre a República e a Região Autónoma da Madeira, redundando no florescimento da torpeza que reveste as palavras de Alberto João, quando se refere a "Lisboa" – símbolo do poder central e centralizado. A tíbia, porque putrefeita, República portuguesa, exibe as suas pústulas quando o Presidente preserva uma postura de plácido imbele, recusando a reiteração da sua autoridade e outorgando a Alberto João o estatuto de inimputável, do qual frui com insaciabilidade.

São profusos os episódios que corporizam ignomínias para a República, perpetrados por Alberto João ou por seus caninos acólitos. Nos últimos anos, a Madeira política protagonizou uma refrega candente e estulta com a República, alinhando pela Madeira o partido do asno – leia-se PSD e governo regional -, e pela República a Marinha. O imbróglio, etiquetado de "guerra das bandeiras", poderia transformar-se num colossal volume de literatura satírica e inverosímil, devido ao tempo dissipado com questiúnculas, sintoma da fatuidade que pulula nas cabeças grandes e ocas desses mentecaptos trajados de laranja.

Nos últimos capítulos da comédia assistimos ao mergulho de um oficial da Marinha, devidamente fardado, depois de empurrado por um sabujo do verdugo. O incidente suscitou o repúdio do então Comandante da Zona Militar da Madeira, mas não abalou o torpor de Sampaio. Na verdade, a Madeira continua a ser um excremento de Portugal. Todavia, alterou-se a perspectiva. Enquanto Salazar a relegava para a condição de colónia – curiosamente o "entulho" do Estado Novo foi varrido do continente e depositado na Madeira, como Marcello Caetano -, A República, através do seu representante máximo, tende ignorar o que dela provém, desde o plano político. O facto de os sucessivos Presidentes relativizarem as diatribes volitivas de Alberto João não significa qualquer deificação da Madeira, estatuto que lhe conferiria uma liberdade a roçar a libertinagem. Não. Eu, como madeirense e cidadão português consciente, exijo do Presidente da República o cumprimento das suas solenes promessas, efectuadas com estrépito no momento em que, com a mão sob a Constituição, é empossado. Destarte, não mais poderá ser possível contestar a unicidade do Estado mediante estratégias vis ou vituperiosas. Se existem madeirenses que desejam a Independência, reconheço, como genuíno e hormonal democrata, a sua legitimidade de reivindicação, devendo esta amparar-se num discurso tributário da racionalidade. Enquanto a Madeira se mantiver como Região Autónoma, deverá responder perante a República, pelo que ao Presidente cabe a missão de salvaguardar o que prescreve a Constituição, mesmo no mais brumoso recesso abrangido pela lei da República Portuguesa.

As próximas eleições presidenciais não serão decididas pelo veredicto madeirense, mas seria imperiosa a consciencialização dos madeirenses para a importância deste acto eleitoral. Infelizmente, não estarei presente, prevejo, nas conferências que os principais aspirantes a Belém protagonizaram na Madeira. Todavia, se lá estivesse, esboroaria a timidez, requestaria a palavra e perguntaria: “Atendendo às relações tormentosas entre a Madeira e a República, como agirá na eventualidade de Alberto João Jardim macular a letra constitucional ou voltar a contestar a autoridade de um subalterno directo do Presidente, a exercer funções na Região”? O meu voto, como é público, já foi endereçado. Votarei em Alegre, mas espero que o “benigno sedicioso” volte a vincar o seu denodo e o primado da lei da República.

Vítor Sousa
(Membro da Comissão de Honra e autor da petição Movimento Cívico de apoio à candidatura de Alegre)

*Texto inicialmente publicado no Estranho Estrangeiro

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