Saturday, January 14, 2006

Manuel Alegre a a ressurreição da cidadania

alegremadeira@hotmail.com

Num período em que a candidatura de Manuel Alegre parecia inane, manietada pelas vigentes lógicas partidárias da política portuguesa, ergui-me, solitário e quimérico, contra o torpor cívico que putrefaz a nossa democracia. Destituído de vínculos partidários, os quais rechacei sempre e assim continuarei, mas assumindo-me como um homem político, legatário do diagnóstico aristotélico segundo o qual todo o Homem é um animal político, procurei evitar sucumbir à pestilência da alienação cívica, recorrendo a um dos modernos poderes ao dispor dos cidadãos: a Internet. Nos recessos da blogosfera onde habito e coabito, detectei apoios genuínos a Manuel Alegre, realidade que impulsionou um acto de repercussões presumivelmente irrisórias. Enganei-me e venceu a cidadania. Julgo, mesmo – e permitam-me que reconheça o meu mérito -, que os efeitos de uma mera petição validam a minha crença na possibilidade de cada cidadão contribuir para a “res publica”. Por isso, e digo-o sem pudor, repudio todas aquelas carcomidas palavras de prostração, segundo as quais “os políticos são todos iguais”, ou “não podemos fazer nada, porque eles comem tudo…”. Se a conjuntura política portuguesa é, hoje, medíocre, não é intelectualmente salubre ilibar o cidadão anónimo. Os Filhos do 25 de Abril, como eu, rivalizam com os pais na culpa pelo estado agónico da política portuguesa. Se os pais, após a ebulição político/ideológica posterior ao 25 de Abril, exploraram o súbito regresso das clivagens entre os “políticos profissionais (a partir do 25 de Abril partidários) e o povo, açambarcando a coisa pública, a complacência dos filhos não pode ser olvidada. A cidadania, no âmbito da meditação e participação políticas, definhou, exibindo algum viço aquando dos momentos eleitorais. É pouco. Vicente Jorge Silva, há alguns anos, aturdiu Portugal ao arremessar contra os jovens o epíteto de “geração rasca”. Subscrevo, embora jovem. Subscrevo embora seja imperioso vincar que o rótulo corrosivo deve incidir, somente, sob a natureza política dos jovens, os quais, conquanto preocupados, são atingidos pelas visões redutoras, limitando-se a vociferar quando sentem pruridos nos bolsos, devido, por exemplo, ao pagamento e aumento das propinas. As reivindicações podem ser justas – não as discuto agora -, mas denunciam o alheamento cívico conluiado com algum egocentrismo vigente. São turbas de vociferadores, que se limitam a criticar sem a apresentação de antídotos convenientes para as chagas do país. São jovens adultos, munidos, a priori, de todos os direitos conferidos pela lei, mas já vítimas de uma aparente idiossincrasia nacional: a melancolia estéril e submissão ao pessimismo paralisante. Se exortei o poeta à luta, digo o mesmo aos meus congéneres cronológicos: ergue-te e anda!

As conjunturas sociais e políticas não são comparáveis, embora seja notória uma tendência para a auto-sublimação da geração que forjou o 25 de Abril. Na verdade, e cingindo-me ao plano político, a geração onde pontifica Manuel Alegre perfilhou a causa da democracia, quando as brumas salazarentas enredavam Portugal, Hoje, Portugal dispõe de democracia, reduzindo o pecúlio de causas que costumam acicatar a energia dos jovens. Todavia, a democracia é, sempre, uma obra inacabada, porque subjacente a ela está a propensão utópica intrínseca ao Homem. Por isso, não é viável, verifica-se após um simples rastreio, escudar as novas gerações com a alegação de que escasseiam as causas. Poderão ser, sim, diferentes, mas os mais de dois milénios de luta pela depuração da democracia amparam a exortação de Manuel Alegre: “reinventem a democracia!”

A emancipação cívica urge, em Portugal, a qual, surgindo, deverá garantir a ressurreição da sociedade como corpo político. Parece-me que os partidos políticos, como filhos da sociedade política, devoraram a mãe, representando esta empreitada liderada por Manuel Alegre uma oportunidade ideal para resgatar da clausura a cidadania. Os partidos políticos são incontornáveis e desejáveis em democracia, mas, relembre-se, a democracia, mesmo no plano conceptual e mutilada na prática, nasce apoiando-se na cidadania. Os partidos políticos surgem muito mais tarde, pelo que a relação que muitos estabelecem entre política e partidarismo reflecte lamentáveis fragilidades avaliativas. A cidadania antecede o partidarismo, e numa metamorfose imprevista, a ele sobreviverá. É tempo, portanto, de recuperar a coisa pública para, em harmonia com os partidos, perseguir a purificação da democracia. Estou absolutamente convicto de que cidadãos conscientes e sagazes obrigarão a classe política governativa à regeneração e ao aprimoramento. Poderei estar errado, mas tentemos. Se a alienação redundou nestes resultados, vejamos quais os efeitos da cidadania activa e frutífera. Se estiver enganado, eu próprio amputo a minha índole política, tornando-me um cidadão por decreto, exibindo como divisa a “mentira” de Pessoa: “pensar é estar doente dos olhos.”

Alegre, dizem uns, apresenta-se contra os partidos, apesar de ser membro do PS há mais de 3 décadas. Errado. Alegre apresenta-se contra esta concepção pífia de partidos, perspectiva escorada no conhecimento acutilante da realidade partidária, devido a uma coabitação de 3 décadas. Alegre, vejo-o eu sem vincular o candidato, assemelha-se a um Lutero da política portuguesa. Independentemente das opiniões acerca dos feitos do clérigo germânico, é consabida a sua relação oficial com a estrutura contra a qual, posteriormente, se rebelou. A reforma protestante simboliza a evasão do Homem ao despotismo e opressão fomentados pelo Homem, originando, não só uma nova bifurcação na cristandade mas, não esqueçamos, a renovação da Igreja Católica. A afixação de escritos nas portas das catedrais inseria-se numa lógica tradicional, pelo que Lutero, ao publicar as 95 teses contras as bulas papais, não previa os efeitos sísmicos derivados da sua actuação. Se me permitem a analogia, uma despicienda petição, proveniente de zonas recônditas da sociedade, gerou um movimento de aglutinação de desejos que, hoje, nutre a esperança de ver Alegre em Belém. A petição não é mais relevante do que os apelos profusos que desembocaram nas mãos, olhos e ouvidos de Manuel Alegre. Todavia, julgando não cometer qualquer inconfidência, revelo as palavras que Manuel Alegre me endereçou, ao assinar um livro da sua autoria: “Obrigado ao Vítor Sousa por ter enchido este quadrado de gente”. Esta frase vinca a crença de Alegre no poder, no terrível poder dos cidadãos. Terrível poder, atemorizador poder para todos os cultores do torpor cívico.

Todos aqueles que vaticinam o assomo de um novo partido político, fruindo do impacto desta campanha, denotam, além de perfídia, penúria. Não existe, em Portugal, uma tradição de movimentos cívicos apartidários ou tributários de diferentes perspectivas e iguais desejos. Nesta candidatura, não há uniformidade. Há liberdade. A candidatura de Manuel Alegre é a única que apresenta uma visão sólida de Portugalidade. É a única que, sem menosprezar o factor económico/tangível, está consciente de que Portugal é muito mais do que um naco de terra. É a única que apresenta propostas com o fito de proteger a nossa riqueza mais faustosa, (quiçá única) porque imperecível: a Língua. Alegre é um genuíno sucedâneo de Pessoa, porquanto se assume como um devoto da Língua Portuguesa, um verdadeiro patriota. Repisa a palavra Pátria, estigmatizada devido às sevícias do passado, e origina os clamores dos oblíquos que temem o regresso de um nacionalismo exacerbado. A missão de rebater estas visões delego em quem não teme dilapidar tempo útil com a estultice alheia. Manuel Alegre é um patriota no sentido pessoano do termo, o que lhe oferece um estatuto peculiar, dentro da classe política. Há quase um ano, o actual Presidente Jorge Sampaio alertava para a necessidade de abolir o imediatismo político na condução do país, mediante a reflexão que fita horizontes longos, actuação altruísta porque enfatiza um futuro que pode já não ser nosso. A intervenção do poeta, ao assumir o propósito de alcançar a Presidência da República, reflecte a intemporalidade que deve nortear actividade política, porque, independentemente dos resultados imediatos, demonstra que os partidos políticos não são, nem podem ser, tutores de consciência. Quando a história deste período for escrutinada, prevejo duas possíveis conclusões: Radica aqui a regeneração cívica portuguesa ou radica aqui, num eterno e impertinente retorno, o adiamento de Portugal. Sem D. Sebastiões, mas com um indubitável nevoeiro, é pertinente clamar: “É a hora!”

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

Friday, January 13, 2006

A um Poeta

alegremadeira@hotmail.com

Recupero o texto que acompanhou a petição, aglutinadora de desejos saciados com a candidatura de Manuel Alegre. Nasceu no longínquo dia 3 de Setembro, no Estranho Estrangeiro.

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Recordo-me de Antero. O intróito deste texto já estava gizado, mas elidi-o quando o pensamento, ao fluir, se encontrou com “as causas da decadência”… Embarguei-o. Não podia introduzir aspas no intangível, mas a sensação de rapina infiltrou-se. E recordei Antero, autor do percuciente ensaio “As causas da decadência dos povos peninsulares”. Amputo as duas últimas palavra, abdico do plural precedente, e assoma “As causas da decadência de Portugal”.

Seria petulância exacerbada acreditar que seria capaz de perscrutar as razões que subjazem ao declínio de Portugal. Não é, destarte, meu propósito proceder a uma prolixa exposição que incida sobre os nutridores da decrepitude portuguesa, pelo que me cinjo à detecção da mais excruciante pústula que criva o corpo de Portugal: a lassidão cívica. Se a política apresenta máculas, não é intelectualmente probo ilibar o povo. O “partidarismo” monopolizou a vida cívica, tendo-se esvaído toda o enlevo que a política, logo após o 25 de Abril, infundia nas massas. Hoje, o povo mantém-se distante e entorpecido. A desilusão levou a que, progressivamente, as massas alienassem as suas responsabilidades cívicas, delegando a missão de edificar Portugal na classe político/partidária. Quando se manifesta o “povo”? Vocifera quando uma câmara explora as suas lamúrias plangentes, ou quando sente que um dedo esguio e astuto provoca pruridos perto das virilhas. “Mexem-nos nos bolsos”, bradam. Depois hibernam. E a “res publica” volta a ser de uns, reduzindo-se grande parte dos diálogos sobre “a política” aos argumentos carcomidos, segundo os quais “os políticos são todos iguais”. Nem diálogo é. São verrinas rudes, com meneios de cabeças. Aquiescentes ou não, dependendo do contexto. Mas existem razões, porque faltam ideais impolutos, credibilidade. Faltam, essencialmente, estímulos que incutam nas massas a crença de que é possível depurar a democracia.

Alegre, acabrunhado, abdicou da sua candidatura por razões de fidelidade partidária. Apesar de compreender o intento de não provocar cesuras na esquerda, digladiando-se contra o candidato oficial do “partido”, Alegre golpeia o ideal cívico ao sucumbir às lógicas partidárias. Se “a República não tem donos”, a Democracia também não. Sendo assim, exaspera-me assistir à prostração de um cidadão devido à palavra de um partido. A Democracia faz-se com os cidadãos, incluindo os apartidários, como eu. Se Alegre está no seu “quadrado”, manietado pelo partido e refém deste, ergam o gládio cívico os cidadãos que repudiam a redução da política ao partidarismo, e resgatemos o encarcerado. Ergamo-nos, pois, nós. Erga-se, pois, Alegre. Ergamo-nos todos, alegres.

A política não se faz sem o sonho, e os portugueses deixaram de sonhar. São eles, na verdade, os seus próprios castradores. A mera hipótese de Alegre se insurgir, com um vasto sustento cívico destituído de elos partidários, contra a modelação do regime em função das volições egocêntricas dos partidos, originaria, acredito, a adesão daqueles que, estremunhados, regressam do exílio cívico. Alegre faria sonhar, como outrora, quando evidenciava a sua índole refractária contra a opressão ditatorial. Também há opressão em Democracia. Se Manuel Alegre contribuiu para erigir a Democracia, pode auxiliar na missão de aprimorá-la.

Em nome da cidadania, em nome da Democracia, decalco Antero e, dirigindo-me A um Poeta, exorto: Surge et ambula!

A um Poeta

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.

Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno…

Escuta! É a grande voz das multidões
São teus irmãos, que se erguem! São canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

Antero de Quental

Monday, January 09, 2006

Sondagens exorcizam especto terrífico

alegremadeira@hotmail.com

A sondagem mais recente, publicada no Diário de Notícias, prevê uma vitória trovejante de Cavaco, logo na primeira volta, com a suplantação dos 60%. Em harmonia, portanto, com os vaticínios da Católica, cuja sondagem atribui 60% dos votos a Cavaco, relegando Alegre para o segundo posto, brandindo 16% dos votos.

Esta campanha é enformada por duas lutas consabidas: a primeira decorre da imperiosidade de impedir o alcance dos 50% dos votos por parte de Cavaco. A segunda é tributária da luta entre Alegre e Soares, devendo Alegre se superiorizar. Todavia, a mera hipótese de Alegre prostrar Soares não me serena ou apraz, porquanto o júbilo só poderá emergir se Alegre conquistar o direito – justo! – de se digladiar, só, com Cavaco, na segunda volta. O cenário é nefasto, os horizontes são brumosos, mas o período candente aproxima-se, pelo que se mantém hirta e viçosa a esperança no sucesso desta empreitada hercúlea.

Alegre pode, sendo eleito, elevar-se ao posto de melhor Presidente da República portuguesa. Sem relativizar Sampaio ou o Soares da década passada, parece-me que nenhum deles emula com Alegre no plano da visão de Portugal. Soares é um homem do saber – embora tenha dúvidas acerca do fomento do saber holístico -, dedicando-se a ruminações sobre a Europa, o Mundo e a globalização, em indícios de cosmopolitismo. Contudo, é Alegre quem abarca a mais sólida e límpida perspectiva sobre Portugal e sua condição, como pais projector de uma Língua imensa e imarcescível.

As sondagens recentes são lenitivos para a direita, atemorizada com o espectro da segunda volta, onde Cavaco, presumo, sucumbirá à sua própria vacuidade. Manuel Alegre, apesar de ser um escorreito tribuno, abdicou, amiúde, de uma maior acutilância, devendo surgir na segunda volta com um cariz retórico mais percuciente, obrigando Cavaco, num duelo menos desigual, ao fardo de verbalizar. A unção de Cavaco, por parte desta sufocante maioria de portugueses, denuncia a inexistência, entre o povo, de uma concepção aprumada de Presidente da República, ou, no mínimo, de uma opaca definição do perfil curial que um Presidente deve brandir. Cavaco, ataquem-me os detractores, é um perfeito legatário democrático de Salazar, embora não queira macular a sua imagem de democrata. Mas é um democrata do 26 de Abril. Cavaco é um homem redutor e opressor do saber, porquanto o mar da sua mundividência é tributário do rio da economia. Portugal, por outro lado, desbravou o ignoto mediante a ânsia de descoberta. Física e intangível. Ficarei desolado se o povo português eleger Cavaco, agudizando-se a angústia se as clivagens se mantiverem abissais. Eleições deveriam, no plano idílico, reflectir a qualidade dos candidatos e as suas diferenças. Mas Cavaco não é melhor do que Alegre, como aspirante a Presidente. É-o, quiçá, para um povo obnubilado. Como o Portugal de hoje. Se Cavaco vencer, meus caros leitores orbívagos, não deixarei de verrinar os débeis que o legitimaram. Deixo o “respeito pelo povo soberano” para os outros, os democratas dissimulados. Aceitarei qualquer resultado, mas o povo não se evadirá à acrimónia de quem está saturado de mediocridade. Até da sua.

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

Saturday, January 07, 2006

A venalidade de Cavaco

alegremadeira@hotmail.com

Cavaco Silva está a evidenciar uma índole embusteira, potencialmente corrosiva para a sua imagem de probidade inexpugnável. A visita à Madeira simboliza o colapso do Cavaco austero e auto-suficiente, porquanto a harmonização contingencial com o cabotino Jardim, após os opróbrios arremessados pelo último, traduz a ânsia de sucesso, mesmo que à impudência pérfida seja imperioso recorrer.

Alberto João Jardim preserva este escudo irídico, que lhe confere omnipotência, porque são pessoas como Cavaco e Soares quem lhe faculta apetrechos. Soares, recorde-se, visitou a Região e sentiu a necessidade da legitimação do mazorro, amiúde escarnecido e relativizado, mas sempre entronizado quando o voto madeirense é importante. A gangrena da venalidade atingiu, também, Cavaco, que frui de dois dias ribombantes na Madeira, rodeado por turbas acéfalas e munidas de bombos, lideradas pelo folião que perpetua o Carnaval. Durante a visita de Alegre à Região, alguns jornalistas necrófilos tentaram escalpelizar a pútrida relação entre os do “continente” e o magarefe da “democracia regional”, mantendo Alegre uma postura imaculada. Como um insurrecto que se digladia contra poderes mumificados, Alegre não manifestou vontade de visitar Jardim, opção que se compreende pela total irrelevância pessoal atinente ao acto. O contacto com Jardim só agudiza o diagnóstico da penúria humana, apesar de ser expectável a extracção de proveitos desse cruzamento de dissimulados. Jardim é-o, mas Alegre não. Cavaco e Soares genuflectiram e oscularam a mão do ubíquo. Mas de Cavaco já se espera tudo, depois de o vermos a cantar “Grândola Vila Morena”. Uma pergunta infiltra-se na prosa: qual foi a acção de Cavaco durante o Estado Novo? Acredito, revigorando-se a convicção, de que Cavaco se compatibilizaria com um regime hermético e despótico, desde que as finanças não resvalassem. Vejo-o, inclusive, como um perfeito ministro de Salazar, e prevejo o deleite com que Salazar e o seu legatário democrático confraternizariam, se coabitassem nas estruturas governamentais e íntimas, durante longas tardes na placidez de Santa Comba Dão, assistidos pela D. Maria de Jesus, governanta de Salazar.

Após as duas últimas aparições sísmicas de Cavaco, Jardim expeliu abjecções e palavras cominatórias, vincando que, na Madeira, ninguém iria evadir-se ao torpor matinal para auxiliar o “sr. Silva”. Mais, sugeriu a exoneração de Cavado do PSD, depois de este ter inviabilizado a exibição dos cartazes em que Cavaco se perfilava ao lado de Santana, súmula dos redentores portugueses, todos eles vinculados ao PSD. Hoje, e enquanto os dedos deambulam pelo teclado, Cavaco deverá estar a degustar um bolo-rei, tentado não permitir a evasão de partículas, enquanto Alberto João instiga o ânimo do povo larvar, que deverá encher a sala de congressos do Tecnopolo para ouvir o faustoso, e totalmente inopinado, discurso de Cavaco: “He, a economia, os portugueses, a economia, Portugal, a Madeira, a economia. Eu, a Assembleia Nacional. Como? Ah, pois, irrelevante, porque é a mesma coisa. Sim, a Assembleia da República.…”

As pessoas que acompanham o circo de Cavaco, na Região, não são mobilizadas pela empedernida convicção na conveniência do professor como Presidente, mas agem na ânsia de acompanhar as pegadas do chefe regional, lambendo, mesmo, a sua baba, quando os lenços estão ausentes e as mãos ocupadas com os tambores. Sabujice torrentosa e nojenta. E Portugal adia-se, porque este povo rude venera a subalternização. Lambedores de chagas!

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

Valente absurdo

alegremadeira@hotmail.com

Até hoje, li, sem me manifestar, as crónicas verrinosas de Vasco Pulido Valente sobre Manuel Alegre. Todavia, a que hoje o Público edita assemelha-se a um exercício de onanismo verberador e a um amontoado de inverosímeis opróbrios. Admiro VPV pela sua genuinidade, mas este homem não tem poros. Tem estigmas. Não respira. Odeia. Não elogia. Deifica. Os encómios de VPV são desbragados, conquanto inusitados, e as avulsas aparições de palavras panegiristas agudizam a dificuldade para incutir parcimónia. Hoje, Mário Sares deverá rejubilar, mesmo depois da flagelação iminente, perpetrada tanto por Cavaco como por Alegre, porquanto VPV abdica do fel e ungiu-o com o seu mel espesso, viscoso e pútrido, porque demasiado tempo guardado nas cercanias das vísceras do ódio.

Apodar Alegre de “personagem menor”, ou de “lírico de província”, simboliza o definhamento deste arquétipo cauterizante português, enredado pela cólera prodigalizadora, quiçá fomentada pela impertinente fuga do “Homem novo”. Os espectáculos que Pulido Valente, semanalmente, protagoniza, quando opina sobre um dos candidatos, são degradante e indecorosos. Contudo, os prosélitos de Cavaco e de Soares anseiam por debicar os produtos ferinos dessa harmonia putrefeita, chamada Pulido Valente. Ainda há alguns dias, adquiri um dos seus livros, sintoma do respeito intelectual que por si nutro. Todavia, exaspera-me toda aquela obliquidade, transmudada de liberdade e visão holística. VPV é um preso. É um errante citadino que nunca abandonou as celas da PIDE. É um nostálgico incontinente, apesar da capa de circunspecção. É, em súmula, um Homem que detecta o absurdo da Humanidade e da existência, sem que se aperceba do absurdo em que imerge, como vítima inelutável do absurdo que é a vida. Quando VPV redigia este artigo risível, se visse Soares, coroava-o, ou adoptava-o como Deus terreno. Lamentável.

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

Friday, January 06, 2006

A candidatura de Alegre

alegremadeira@hotmail.com


Se existe coerência e justeza de critérios no que deve incorporar um Presidente da Republica, Manuel Alegre possui sem a menor sombra de dúvida todas as qualidades para ocupar o mais alto cargo público da nação.

No seu vasto leque de qualidades há a destacar a sua irrepreensível conduta politico-partidaria bem como o seu elevado sentido de estado que sempre potenciado pela sua verticalidade de carácter, pelo seu inspirador percurso politico e pela fineza da sua conciliadora diplomacia o colocam como o perfil por excelência para candidato presidencial.

Há muito que a pátria dos Poetas necessitava de alguém com a destreza, sensibilidade, visão e capacidade de expressão como Manuel Alegre, não só por ser um dos mais extraordinários poetas do nosso tempo mas também por ter demonstrado continuadamente que tem uma opinião própria e muito fundamentada acerca do passado, presente e futuro de Portugal e que também e mercê do seu impar percurso politico o transforma inegavelmente em um politico igualmente extraordinário

A esquerda
ainda se vive muito no fundamento do confronto primário entre facções, a candidatura de Manuel Alegre traz um traço de concilio e sanctuarium politico para todos aqueles que lutam para que a Nação não volte a cair na estagnação e obscurantismo medieval cavaquista.Estamos todos de acordo que é imperativo derrotar a "esfinge" da direita através da criação de um movimento de simpatia e eficácia politica fecundante a todos os sectores da sociedade Portuguesa e nesta altura em que a animosidade destra se distendeu o quanto baste agora é necessário convergir no que de melhor civilidade e transparência a esquerda poderá manifestar e materializar e como naquela fabula dos vimes, juntos tornam-se inquebráveis mas só um é que vai poderá ir depois ao pote do mel e espero sinceramente e para o bem de Portugal que seja Manuel Alegre.

O poeta-politico ou Politico Poeta pôs um ponto final no partido-porreirismo que o vinha assolando a algum tempo a esta parte.Acabou-se aquela benevolência aristocrática, aquela admiração ostentativa de metiê em que fica sempre bem um intelectual na foto e se for poeta tanto melhor. Acabou-se aquele papel por vezes altamente subestimado e por vezes meramente decorativo de quem ali esta apenas para atribuir pedigrie politico ao Partido Socialista.Terminou a arruaça pervertida de chamar esquerda a um virtualmente omnipotente Partido socialista que transformou o núcleo duro da classe media trabalhadora em lastro da desmesurada caminhada desvalorizada de valores que literatos ou em dialéctica poderão finalmente adquirir uma dimensão humanamente funcional.

O peso da história e a sede de futuro demonstra-se nos actos e nos homens maiores que ao transpor o véu do mediatismo gratuito como suporte da legitimidade se tornam andarilhos conscientes da alma maior de toda uma nação.

Muito para alem de duelos ao por do sol entre cavaco e soares em que o primeiro, eufónico representa o eufemismo da indiferença e da desvitalização do Portugal moderno enquanto que o segundo preconiza um agastado discurso do dialogo ecuménico completamente incompatível com os novos desafios e eras.

Vamos todos não como um grito de revolta mas sim como um grito de afirmação da forma de pensar de um Portugal moderno pleno de contemporaneidade personalizada impregnar gentes e coisas e votar em força e convicção em Manuel Alegre.

Os que possuem Bibliotecas e percebem de finanças nada poderam fazer se não saberem usar a ferramenta e a visão humanista, audaciosa e plena de futuro que é sem dúvida o lema que norteia o âmago de Manuel Alegre.

O inquietante visionário politico poeta
Sabe que pouco vale a ode
Se no seu íntimo não almejar
Demonstrar tudo o que o povo pode


Jorge Batista de Figueiredo

(Mandatário Regional para a Juventude)

As Presidenciais para os madeirenses

alegremadeira@hotmail.com

Para um madeirense, a eleição do habitante do mais alcandorado lugar da nação política comporta uma importância acrescida, devido à consabida pusilanimidade dos Presidentes, quando está em causa os comportamentos de Alberto João. A Madeira, conquanto munida de uma autonomia ampla, evade-se, politicamente, ao respeito devido a uma República una, cujo paladino primordial reside em Belém. Alberto João Jardim é quase tão antigo quanto a "democracia" portuguesa, mas equipara-se a ela no campo da putrefacção. O tempo encrespou as relações entre a República e a Região Autónoma da Madeira, redundando no florescimento da torpeza que reveste as palavras de Alberto João, quando se refere a "Lisboa" – símbolo do poder central e centralizado. A tíbia, porque putrefeita, República portuguesa, exibe as suas pústulas quando o Presidente preserva uma postura de plácido imbele, recusando a reiteração da sua autoridade e outorgando a Alberto João o estatuto de inimputável, do qual frui com insaciabilidade.

São profusos os episódios que corporizam ignomínias para a República, perpetrados por Alberto João ou por seus caninos acólitos. Nos últimos anos, a Madeira política protagonizou uma refrega candente e estulta com a República, alinhando pela Madeira o partido do asno – leia-se PSD e governo regional -, e pela República a Marinha. O imbróglio, etiquetado de "guerra das bandeiras", poderia transformar-se num colossal volume de literatura satírica e inverosímil, devido ao tempo dissipado com questiúnculas, sintoma da fatuidade que pulula nas cabeças grandes e ocas desses mentecaptos trajados de laranja.

Nos últimos capítulos da comédia assistimos ao mergulho de um oficial da Marinha, devidamente fardado, depois de empurrado por um sabujo do verdugo. O incidente suscitou o repúdio do então Comandante da Zona Militar da Madeira, mas não abalou o torpor de Sampaio. Na verdade, a Madeira continua a ser um excremento de Portugal. Todavia, alterou-se a perspectiva. Enquanto Salazar a relegava para a condição de colónia – curiosamente o "entulho" do Estado Novo foi varrido do continente e depositado na Madeira, como Marcello Caetano -, A República, através do seu representante máximo, tende ignorar o que dela provém, desde o plano político. O facto de os sucessivos Presidentes relativizarem as diatribes volitivas de Alberto João não significa qualquer deificação da Madeira, estatuto que lhe conferiria uma liberdade a roçar a libertinagem. Não. Eu, como madeirense e cidadão português consciente, exijo do Presidente da República o cumprimento das suas solenes promessas, efectuadas com estrépito no momento em que, com a mão sob a Constituição, é empossado. Destarte, não mais poderá ser possível contestar a unicidade do Estado mediante estratégias vis ou vituperiosas. Se existem madeirenses que desejam a Independência, reconheço, como genuíno e hormonal democrata, a sua legitimidade de reivindicação, devendo esta amparar-se num discurso tributário da racionalidade. Enquanto a Madeira se mantiver como Região Autónoma, deverá responder perante a República, pelo que ao Presidente cabe a missão de salvaguardar o que prescreve a Constituição, mesmo no mais brumoso recesso abrangido pela lei da República Portuguesa.

As próximas eleições presidenciais não serão decididas pelo veredicto madeirense, mas seria imperiosa a consciencialização dos madeirenses para a importância deste acto eleitoral. Infelizmente, não estarei presente, prevejo, nas conferências que os principais aspirantes a Belém protagonizaram na Madeira. Todavia, se lá estivesse, esboroaria a timidez, requestaria a palavra e perguntaria: “Atendendo às relações tormentosas entre a Madeira e a República, como agirá na eventualidade de Alberto João Jardim macular a letra constitucional ou voltar a contestar a autoridade de um subalterno directo do Presidente, a exercer funções na Região”? O meu voto, como é público, já foi endereçado. Votarei em Alegre, mas espero que o “benigno sedicioso” volte a vincar o seu denodo e o primado da lei da República.

Vítor Sousa
(Membro da Comissão de Honra e autor da petição Movimento Cívico de apoio à candidatura de Alegre)

*Texto inicialmente publicado no Estranho Estrangeiro