Saturday, January 07, 2006

A venalidade de Cavaco

alegremadeira@hotmail.com

Cavaco Silva está a evidenciar uma índole embusteira, potencialmente corrosiva para a sua imagem de probidade inexpugnável. A visita à Madeira simboliza o colapso do Cavaco austero e auto-suficiente, porquanto a harmonização contingencial com o cabotino Jardim, após os opróbrios arremessados pelo último, traduz a ânsia de sucesso, mesmo que à impudência pérfida seja imperioso recorrer.

Alberto João Jardim preserva este escudo irídico, que lhe confere omnipotência, porque são pessoas como Cavaco e Soares quem lhe faculta apetrechos. Soares, recorde-se, visitou a Região e sentiu a necessidade da legitimação do mazorro, amiúde escarnecido e relativizado, mas sempre entronizado quando o voto madeirense é importante. A gangrena da venalidade atingiu, também, Cavaco, que frui de dois dias ribombantes na Madeira, rodeado por turbas acéfalas e munidas de bombos, lideradas pelo folião que perpetua o Carnaval. Durante a visita de Alegre à Região, alguns jornalistas necrófilos tentaram escalpelizar a pútrida relação entre os do “continente” e o magarefe da “democracia regional”, mantendo Alegre uma postura imaculada. Como um insurrecto que se digladia contra poderes mumificados, Alegre não manifestou vontade de visitar Jardim, opção que se compreende pela total irrelevância pessoal atinente ao acto. O contacto com Jardim só agudiza o diagnóstico da penúria humana, apesar de ser expectável a extracção de proveitos desse cruzamento de dissimulados. Jardim é-o, mas Alegre não. Cavaco e Soares genuflectiram e oscularam a mão do ubíquo. Mas de Cavaco já se espera tudo, depois de o vermos a cantar “Grândola Vila Morena”. Uma pergunta infiltra-se na prosa: qual foi a acção de Cavaco durante o Estado Novo? Acredito, revigorando-se a convicção, de que Cavaco se compatibilizaria com um regime hermético e despótico, desde que as finanças não resvalassem. Vejo-o, inclusive, como um perfeito ministro de Salazar, e prevejo o deleite com que Salazar e o seu legatário democrático confraternizariam, se coabitassem nas estruturas governamentais e íntimas, durante longas tardes na placidez de Santa Comba Dão, assistidos pela D. Maria de Jesus, governanta de Salazar.

Após as duas últimas aparições sísmicas de Cavaco, Jardim expeliu abjecções e palavras cominatórias, vincando que, na Madeira, ninguém iria evadir-se ao torpor matinal para auxiliar o “sr. Silva”. Mais, sugeriu a exoneração de Cavado do PSD, depois de este ter inviabilizado a exibição dos cartazes em que Cavaco se perfilava ao lado de Santana, súmula dos redentores portugueses, todos eles vinculados ao PSD. Hoje, e enquanto os dedos deambulam pelo teclado, Cavaco deverá estar a degustar um bolo-rei, tentado não permitir a evasão de partículas, enquanto Alberto João instiga o ânimo do povo larvar, que deverá encher a sala de congressos do Tecnopolo para ouvir o faustoso, e totalmente inopinado, discurso de Cavaco: “He, a economia, os portugueses, a economia, Portugal, a Madeira, a economia. Eu, a Assembleia Nacional. Como? Ah, pois, irrelevante, porque é a mesma coisa. Sim, a Assembleia da República.…”

As pessoas que acompanham o circo de Cavaco, na Região, não são mobilizadas pela empedernida convicção na conveniência do professor como Presidente, mas agem na ânsia de acompanhar as pegadas do chefe regional, lambendo, mesmo, a sua baba, quando os lenços estão ausentes e as mãos ocupadas com os tambores. Sabujice torrentosa e nojenta. E Portugal adia-se, porque este povo rude venera a subalternização. Lambedores de chagas!

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

5 Comments:

Blogger Ricardo said...

Viva Vítor,

As "arruadas" no Funchal por causa do candidato Cavaco fazem-me lembrar as férias no Porto Santo da comitiva "laranja". Quando o líder vai a banhos a comitiva lembra-se toda que também é hora de ir a banho. Quando o líder sai da água todos lembram-se que podem ficar com os dedos encarquilhados e saem da água.

O que teria acontecido se o líder mantivesse o discurso do sr. Silva?

Não considero essencial, como defendes, não visitar o Presidente do Governo Regional para não pactuar com o que se passa na região. Há que manter uma relação institucional que é importante para defender a qualidade da Democracia na Madeira.

Como sabes, não vou votar Manuel Alegre. Mas não posso deixar de enaltecer as iniciativas que tens feito para promover uma candidatura com estas características.

Vítor, simplesmente parabéns!

Abraço,

1:43 PM  
Blogger VFS said...

Ricardo, obrigado pelas tuas palavras. Reconheço-te como um ínclito democrata, uma vez que assumes a divergência em relação a Alegre, mas não sonegas o mérito e os proveitos detersivos que esta candidatura acarreta.
Quanto aos caninos fiéis de Jardim, não devo dedicar-lhes mais atenção. Os motins intestinais, depois de uma boa espetada, podem agudizar-se, quando penso na fetidez daqueles estercos humanos.
Um grande abraço!

6:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

Parabéns Vítor:

Este artigo é feito com o bisturi. Disseca o tecido pútrido desta sociedade hipócrita que pactua com as safadezas mais mesquinhas. Cavaco devia manter um certo distanciamento: "quem não se sente não é filho de boa gente!"
Era um traidor, devia ser expulso, dividia a direita, era contra a autonomia, enfim, tantos dislates, tantas aleivosias defecadas... e agora... tudo azul, tudo na paz dos anjos, tudo bem minha gente. Ouvi alguém dizer que o "dinheiro é como o azeite... por onde passa amolece!" Cheirando-lhes a dinheiro são como gato a bofe! Melhor, como diria Victor Hugo:
"Miseráveis!"

8:58 AM  
Blogger VFS said...

Joteme, louvo a sua perspicuidade, e enfatizo a qualidade das suas palavras. Um grande abraço e um ano Alegre.

9:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Votar ALEGRE é dizer
Que adoramos Portugal
Não como um eucaliptal
Só com fúria de crescer
Mas como um mar cultural
Onde há marés para ler
E também se aprende a ser
Justo, livre e mais igual!

Sara Silva

2:37 PM  

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