Saturday, January 07, 2006

Valente absurdo

alegremadeira@hotmail.com

Até hoje, li, sem me manifestar, as crónicas verrinosas de Vasco Pulido Valente sobre Manuel Alegre. Todavia, a que hoje o Público edita assemelha-se a um exercício de onanismo verberador e a um amontoado de inverosímeis opróbrios. Admiro VPV pela sua genuinidade, mas este homem não tem poros. Tem estigmas. Não respira. Odeia. Não elogia. Deifica. Os encómios de VPV são desbragados, conquanto inusitados, e as avulsas aparições de palavras panegiristas agudizam a dificuldade para incutir parcimónia. Hoje, Mário Sares deverá rejubilar, mesmo depois da flagelação iminente, perpetrada tanto por Cavaco como por Alegre, porquanto VPV abdica do fel e ungiu-o com o seu mel espesso, viscoso e pútrido, porque demasiado tempo guardado nas cercanias das vísceras do ódio.

Apodar Alegre de “personagem menor”, ou de “lírico de província”, simboliza o definhamento deste arquétipo cauterizante português, enredado pela cólera prodigalizadora, quiçá fomentada pela impertinente fuga do “Homem novo”. Os espectáculos que Pulido Valente, semanalmente, protagoniza, quando opina sobre um dos candidatos, são degradante e indecorosos. Contudo, os prosélitos de Cavaco e de Soares anseiam por debicar os produtos ferinos dessa harmonia putrefeita, chamada Pulido Valente. Ainda há alguns dias, adquiri um dos seus livros, sintoma do respeito intelectual que por si nutro. Todavia, exaspera-me toda aquela obliquidade, transmudada de liberdade e visão holística. VPV é um preso. É um errante citadino que nunca abandonou as celas da PIDE. É um nostálgico incontinente, apesar da capa de circunspecção. É, em súmula, um Homem que detecta o absurdo da Humanidade e da existência, sem que se aperceba do absurdo em que imerge, como vítima inelutável do absurdo que é a vida. Quando VPV redigia este artigo risível, se visse Soares, coroava-o, ou adoptava-o como Deus terreno. Lamentável.

*Texto também publicado no Estranho Estrangeiro

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